quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Os Descendentes - Entre o amor e a dor

Naquela que está sendo considerada a atuação de sua vida, George Clooney se entrega a um personagem forte, desvastado pela dor e pelas cobranças de um falso paraíso


Não se espera nada de ruim de uma história que se passe no Havaí, não é mesmo? Bem, como deixa claro Matt King, personagem de George Clooney em Os Descendentes (The Descendents, 2011), logo nos primeiros minutos de filme, só porque se vive num paraíso não quer dizer que seus problemas sejam menores. E no caso dele, algumas vezes podem ser mais dolorosos que a média.

Matt King enfrenta uma grave crise na vida, desencadeada pelo coma de sua mulher após um acidente de barco. Como se já não bastasse, suas filhas tem um gênio forte, o que anos de ausência paterna parecem só agravar. Para fechar o pacote, a venda de uma enorme propriedade de terra, um pedaço de natureza conservada em meio à invasão do progresso, sobrecarrega Matt, o único depositário do terreno, arrastando meses de decisões de venda entre ele e seus primos.

Matt King: George Clooney no limite.
Tudo já estaria ruim o bastante, se não fossem duas novidades no drama de Matt: 1) os médicos decretam que a morte de sua esposa é questão de tempo, além dela ter  deixado um documento atestando sua vontade de não ter a vida mantida artificialmente nesse caso;  e 2) ele descobre que estava sendo traído recentemente por ela. Daí por diante, Os Descendentes se torna quase um road movie, com todos os eixos da trama se desenvolvendo paralelamente e sem grandes perdas para nenhum deles.

Uma coisa que chama bastante atenção é o bucolismo das paisagens havaianas, mesmo as mais urbanas, em contraste com o espírito destruído do protagonista. Uma ótima escolha do diretor Alexander Payne, diga-se de passagem (será que ele leva o Oscar?). A cada minuto que passa, Clooney (e o Oscar dele, será que sai também?) dá o sangue por uma interpretação sofrida, sem pieguices, num personagem de uma maturidade assustadora e que encanta pela suas atitudes firmes, mesmo quando está prestes a ruir de tanto sofrimento.


Família King reunida
Tirando o superstar Clooney e o veterano Robert Foster, um tanto canastrão, o restante do elenco é bem modesto, porém muito digno. Destaque para Shailene Woodley, que faz Alexandra, filha mais velha de Matt, e Judy Greer, que consegue convencer mesmo com a personagem rasa que pegou. Apesar de não fazer grandes coisas em cena, a pequena Amara Miller, que faz a filha mais nova de Matt, Scottie, rouba nossos corações com a poderosa cena em que ela conversa com uma psicóloga.

Outro ponto que chama atenção é a fotografia de Phedon Papamichael, que também foi o diretor de fotografia de Tudo pelo Poder, dirigido e estrelado por Clooney. Coincidência? Talvez. Sendo ou não, o que se nota é a precisão de Papamichael no uso da luz natural, como fez em Johnny e June e À Procura da Felicidade. Definitivamente, esse ateniense conquistou o meu respeito.

O desfecho de Os Descendentes é no mínimo magnífico. Não apenas esteticamente, mas narrativamente. É a redenção após tanto sofrimento, porém, sem arrasar o espectador. Na dúvida, leve um lencinho. Talvez você vá precisar.


Os Descendentes
Nota: 8.0/10



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Wesley Prado é recifense, leonino, quase jornalista e nostálgico. Lembra da queda do Muro de Berlin. Simplesmente louco por quadrinhos, RPG, livros e cinema. Criador do Caixa da Memória, mas humilde demais para querer ser chamado de deus ou papai.

Um comentário:

Débora Leão disse...

Vontade de assistir triplicou depois desse post.