Recife está recebendo nesse final de semana o Festival Internacional de Teatro de Objetos, o Fito. Pela segunda vez na cidade, o festival traz um tipo de teatro que pode até causar certo estranhamento de início, mas que logo conquista pela sutileza e criatividade. Na verdade, estranho é se causar algum estranhamento, já que o tal teatro de objetos é algo que todos nós já fizemos um dia, em nossas brincadeiras de infância: usar objetos absolutamente comuns para encenar uma história, dando-lhes características especiais. Quando pirralho, por exemplo, eu tinha o péssimo hábito de brincar com um daqueles pegadores de macarrão (acho que servem pra salada também), transfigurando-o num monstro colossal que aterrorizava e devorava pobres soldadinhos verdes (sabe aqueles de Toy Story?), super-heróis de plástico e bonecos de Comandos em Ação.
Mas voltando ao que interessa, ao #Fito2012, pude assistir a dois espetáculos (lembrando que é tudo de graça, hein?). O primeiro deles foi "Assalto", da Cie. Bakelite. Raras vezes eu pude ver tanta criatividade num curto espaço de tempo e de forma tão simples. Como o nome já diz, "Assalto" conta a história de um grande golpe que poderá tornar milionários dois bandidos de rua. A história é mirabolante, com direito a escalada de prédio, assassinatos, arrombamento de cofres e tudo mais que uma boa trama do tipo merece. Se isso já não fosse motivo suficiente para assistir a peça, "Assalto" ainda conta com um bom humor fantástico, com momentos simplesmente hilários.
Cena de "Assalto", da Cie. Bakelite |
O segundo espetáculo que tive oportunidade de conferir foi "Transporte Excepcional", da também francesa Beau Geste. O dançarino Phillippe Priasso contracena com uma retroescavadeira num inusitado dueto homem-máquina. A coreografia é no mínimo emocionante e nervosa. A máquina parece ganhar alma enquanto o espetáculo se desdobra, a um ponto que ela passa a ser, na cabeça de quem assiste, uma criatura tão viva quanto seu par. Fora que ver um homem suspenso no ar por uns 10, talvez 15 metros, sem nenhum cabo ou rede de proteção, é desafiador ao extremo.
Incômodos - Claro que como qualquer evento que se preze, o Fito não passaria sem pequenos chatices que poderiam ser evitadas. A primeira delas se refere a organização das filas. Acho muito improvável que algum recorde de furar filas não tenha sido quebrado hoje. É tanta gente querendo ver as atrações do festival e tão pouca delimitação de espaço que as filas das cinco salas acabam se tornando uma grande confusão pra quem chega ao Marco Zero. Nada que com um pouco de pergunta aqui, pergunta ali não resolva. Mas caramba, custava ter gasto um pouco mais na produção do evento pra criar uma estrutura que organizasse nesse ponto? É uma coisa tão caótica que quando você sai da bilheteria e corre pra (outra) fila da respectiva sala, a impressão que dá é que você deve ter perdido uns 10 a 15 lugares na sua frente. Tipo, ninguém que estava na ordem da bilheteria ficou na mesma ordem da entrada.
Outro problema, bastante notável em alguns trechos de "Assalto" e menos em "Transporte Excepcional" é a sensação de problemas no vídeo, no caso da primeira, e de áudio, no caso da segunda. "Assalto" tem vários trechos falados em francês, com uma tradução exibida em vídeo (e por vezes errada, perceptível até pra quem tem um nível ridiculamente básico de francês, como eu). O problema é que em houve trechos em que o ator falava alguma coisa e o telão ou não mostrava nenhuma palavra ou estava visivelmente atrasado em relação à fala do ator. Nada que comprometa demais o entendimento, mas irrita mesmo assim. Já "Transporte..." tinha transições de áudio que acompanhavam pequenas mudanças na coreografia, e durante essas transições, parecia que havia um enorme buraco entre as músicas. Não sei se esse silêncio é intencional ou se foi falha mesmo do sistema de som. No segundo caso, é algo pra organização corrigir bem depressa, do tipo "pra ontem".
Dicas de sobrevivência
Aqui vão algumas dicas baseadas na minha experiência de hoje no Fito. São poucas, mas creio que serão úteis.
-CHEGUE CEDO! As filas são enormes, parecia mais que ia ter show de Nação Zumbi com retorno de Cordel do Fogo Encantado. Se você for para ver algum espetáculo específico, CHEGUE MAIS CEDO AINDA! As salas tem vagas bem limitadas - a 5, onde assisti "Assalto", tem algo em torno de 130 lugares - e o risco de você perder o que quer ver pela quantidade exagerada de público pode frustrar seu fim de semana.
-A dica acima vale também com relação a fila da entrada nas salas. Chegando mais cedo, você aumenta a sua chance de ficar mais na frente na hora de entrar, pegando lugar nas primeiras filas. Quando assisti "Assalto", fiquei lá pela quinta fila, o que tornou certos trechos da peça impossíveis de assistir a menos que se ficasse em pé, pois eram realizados no chão do palco - e convenhamos, depois de passar quase hora numa fila, ainda ter que ficar em pé pra poder ver uma peça é meio demais, não é mesmo?
-Nas atrações exibidas em praça pública, procure alternativas. Para assistir "Transporte...", por exemplo, eu fiz uso pela primeira vez na vida do maloqueiro style e subi naqueles batentes da Associação Comercial de Pernambuco - também conhecido como aquele prédio entre o Santander Cultural e a antiga bolsa de valores (que agora também é um centro cultural vinculado a algum banco, mas o branco na memória aliada a preguiça me impedirão de procurar no Pai Google a resposta. Façam essa forcinha aí e descubram, beleza? ;P). Outras pessoas que estavam junto a grade que separava o público da área da exibição [evitando que as pessoas fossem atingidas pelos giros do braço da retroescavadeira], com orientação do apresentador do festival, sentaram-se no chão, o que não só as acomodou um pouco melhor como permitiu a quem estava atrás conferir sem o tradicional "quebra-pescoço". O negócio é não assistir de qualquer jeito nem atrapalhar os outros.
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