São 15h. Como odeio estas meias-tardes modorrentas, tão
mortas quanto pássaros abatidos a tiros de badoques por moleques endiabrados.
Nem ao menos uma chuva para acalentar o calor intragável dessa cidade em pleno
verão tropical. Mas também, nem ia adiantar muito. Seria trocar o calor pelo
caos de canaletas entupidas, a água sem ter para onde correr. Recife e sua
irmã, Olinda (ou seria mãe, visto que esta é mais velha que aquela?), são como
duas putas acostumadas a pisa de macho safado. Bonitas, cheias dos encantos e
enfeites, se encontram malamanhadas pela constantes surras que sofrem
diariamente.
Aí como queria largar essas duas! Quem sabe me entregar nos
braços de puta modernosa feito São Paulo, vestindo a última moda de Milão e com
o nariz enfiado em cocaína. Epa, minto eu. O negócio que ela curte agora é
crack. Pó é para os fracos. Melhor não. Se envolver com puta drogada pode ser
bacana no início, mas depois cansa, vira caso de internação ou de polícia.
Quiçá, caixão e vela preta. Passo.
Mas tem também aquela safada, Rio de Janeiro, de pernas
abertas pro mundo o ano inteiro. Vive de pele bronzeada nas areias bem
frequentadas de Copacabana pela manhã, e nos bailes funk e rodas de samba noite adentro. Ouvi dizer, porém, que ela tá cheia das más companhias. Tem sido
vista aos amassos com “chefes” de morro, mulata numa mão e AR-15 na outra.
Pior: já me disseram que até com jogador do Flamengo ela tem andado... Melhor
esquecer essa também. Com puta mal frequentada, basta pegar na mão. A sua
reputação ou o seu pinto, ao menos um dos dois sai podre nessa história.
Mas será que num sobrou nenhuma outra? Nenhumazinha? Natal é
linda, faceira como Deus quis, mas só quer saber de turista europeu, cheio de
amor (e euros) pra dar. Sorry, baby, mal tenho dinheiro pro aluguel, quanto
mais pra te sustentar. Quem sabe, se um dia a coisa melhorar... Maceió e João
Pessoa, aquelas pequenas provincianas... Casaria com elas se não fossem tão
lesinhas, tão paradinhas. E se você um dia me vir aos agarros com aquela Salvador, pode chamar a
ambulância e me internar!
Tem outras tantas oferecidas por aí, cheia de abraços e
chaves de perna (pra não dizer de outras coisas), aqui e lá fora, do outro lado
do mar. Mas depois de tanto tempo, tanto conviver, de saber o gosto, de saber
que não vou esquecer esse gosto e trocar por outro, de sentir o sal do mar no
beijo gelado do vento, do ruge-ruge e das patadas cotidianas, do inusitado e do
comum do dia a dia, quer saber de uma coisa? Não largo essas duas quengas, Olinda e Recife, por
nada nesse mundo! Pode me chamar de besta se quiser. Mas depois, não morra de
inveja. Afinal, quantos podem dizer por aí que pegaram duas, mãe e filha, ambas
jeitosinhas, cheias de charme, hein?
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Um comentário:
Sempre que viajo vejo Recife em alguma outra cidade, não tem jeito! Não esqueço a danada nem pro um diazinho! Não consigo trair!
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