Agitava o caldeirão de gente
Com suas palavras pegajosas
Melífluas, gelatinosas, incoerentes
Ferviam pessoas nesse caldo
De cor repugnante e demente
De cheiro mazelado e grosseiro
Nem reparavam que se envolviam
em joguetes indecentes
Sofriam a indiscrição dos interrogatórios
Deixavam-se levar pelo teatro de lama
Chafurdando na bosta que fluía
da boca delinquente
Eram muitos iguais a ele
Tão iguais em suas máscaras de vidro
Desviando de pedras imaginárias
Com medo de revelar seus brios, seus cios
Mas um dia a pedra acerta o alvo
O teto, a máscara, a testa, o ego
Expondo a ferida, a alma apostemada
Eram muitos iguais a ele
O senhor dos bois-de-fogo
Tocando boiadas no silêncio
Causando incêndios com palavras
Não!
Não adianta não querer ver
É muito feio, mas não tem como não ver
O boi-de-fogo já passou
O fogo a tudo devorou
Só sobraram cinzas na língua
Eram muitos iguais a ele
O senhor dos bois-de-fogo
E um dia não haverá caldeirão, nem povo
Mas sempre haverá fogo
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