quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Cinema de Elite

Tropa de Elite 2 repete o fenômeno do seu antecessor, com conteúdo mais encorpado e prova que o cinema de ação é um gênero a se apostar na filmografia brasileira.


"Agora é pessoal"
Capitão Nascimento. O mais próximo de um super-herói que o Brasil já teve nos cinemas. Assim como Batman, ele não tem nenhum superpoder, se valendo apenas de armas (no caso do capitão, armas de fogo) e apetrechos tecnológicos para combater o crime. Como Superman (o clássico), enfrenta os bandidos seguindo um código de ética incorruptível; a diferença fica por conta de que ética ele segue... Não aceita os corruptos na corporação, não aceita os politiqueiros de plantão a se banhar no dinheiro público, mas não hesita em descer uns tabefes em alguém ou em torturar um menor para obter confissão.

Isto era o que você conhecia do capitão Nascimento. Agora, ele é coronel...

Tropa de Elite 2 foi cercado das maiores expectativa e de um esquema de segurança blindado para que a pirataria não se fartasse nas cópias ilegais antes da estreia (como ocorreu no primeiro). Já era o filme nacional do ano meses antes do seu lançamento. Quando estreou, um mês depois do espírita “Nosso Lar”, a cine-experiência brasileira em “ficção científica sobrenatural”, roubou o primeiro lugar das bilheterias com o assombro de uma ação do Bope. Rapidamente chegou aos 3,5 milhões de espectadores. Menos de um mês depois da estreia, passou dos 6 milhões. É como se a cada hora, 11900 pessoas assistissem Tropa de Elite 2!

O investimento na produção é inegável. Logo de cara, temos o carro de Nascimento metralhado numa sequência em câmera lenta digna de filmes de ação hollywoodianos. As imagens são calculadas com cuidado, não deixando nada semelhante ao “velho estilo” nacional de câmera descuidada, sem se preocupar realmente com o que está sendo filmado. Das cenas aéreas num helicóptero, caçando traficantes a tiro de fuzil, as da invasão do “caveirão” (apelido do carro blindado padrão do Bope) no último morro ainda livre das milícias, o diretor José Padilha conduz seu filme com a mão de um oficial caveira.


Mathias (André Ramiro) invadindo Bangu I
Falando em milícias, elas são o novo inimigo do capitão. Com os traficantes fora de jogo, os policiais corruptos veem uma seara aberta para negócios escusos e uma política de medo, controlando os favelados com a mesma crueldade do narcotráfico. “Tropa de Elite 2” tenta não só explicar o surgimento e dominância das milícias, como também suas consequências e renovações. O tão mal afamado sistema que coronel Nascimento combate desde o primeiro filme. E o debate está apenas começando...

Voltando ao nosso (anti-)herói, Tropa 2 se passa quinze anos após o primeiro, com Nascimento atuando dentro da secretaria de segurança do Rio de Janeiro, num trabalho mais burocrático mas nem por isso menos importante. O problema é que, como tantas vezes divulgado no trailer, ele demora para perceber quem são seus verdadeiros inimigos: políticos canalhas que aceitam negociatas com policiais corruptos pela manutenção de seus cargos, e com apoio da mídia! Esse vai e vem do poder vai impregnando a narrativa, de maneira que lá pelo meio do filme você já tem um nojo abissal de cada um deles...

Fraga (Irandhir Santos): uma complicação na vida do coronel do Bope
Mas nem todos estão cegos em Tropa de Elite 2. Além de Nascimento, outra figura antitética ao já lendário personagem vem dar o ar de sua graça na tentativa de um Estado mais justo: o deputado Fraga, vivido pelo talentoso Irandhir Santos. Esse pernambucano já mostrou a que veio em obras como "A Pedra do Reino" (2007, minissérie), "Baixio das Bestas" (2006) e "Viajo porque preciso, volto porque te amo" (2009). O deputado Fraga, no modo Nascimento de dizer, é um intelectualzinho de esquerda de merda que não conhece porra nenhuma da real dos bandidos. Fraga é contra a superlotação prisional, é um defensor ferrenho dos direitos humanos e um espinho na vida de Nascimento: além de se opor publicamente ao seu trabalho, ele é casado com sua ex-esposa  e vive mais com seu filho, já um adolescente, do que ele próprio!


Aliás, o personagem vivido por Wagner Moura sofre, viu? Curiosa a humanização do personagem, não mais apenas a máquina de matar bandidos do primeiro filme, mas um homem maduro, um oficial experiente, que tenta buscar soluções mais razoáveis e menos desnecessárias. Interessante vê-lo reprovar insistentemente uma entrada do batalhão num reduto do narcotráfico quando ainda lembramos a operação de vingança que fecha o filme anterior. Além das pedreiras no caminho do seu novo cargo, a esfera familiar arruinada joga nosso caro capitão (digo, coronel) na merda, como ele bem diria. E no meio disso, sobram choques com Fraga.


O desenrolar do filme conduz a uma trama cheia de sordidez e corrupção, onde o destino de dois homens tão opostos vai inevitavelmente aproximá-los, dando ao filme um desfecho quase épico – e ainda uma brecha para uma possível continuação. Já não bastasse o roteiro bem amarrado, o elenco inteiro dá show. Além de Wagner e Irandhir, o retorno de Milhem Cortaz (capitão Fábio), Sandro Rocha (Russo) e o acréscimo de André Mattos (Fortunato, um típico apresentador de programas policiais) e Seu Jorge (Beirada, um chefão do tráfico em Bangu I) fazem de "Tropa de Elite 2" uma película respeitável em termos de atuação.


Aê, malandro, corre pra assistir!
Bem, isso é tudo que posso comentar sem dar spoilers a quem ainda não teve a oportunidade de ver. Recomendo muito Tropa de Elite 2, um filme que com certeza vai deixar você com a sensação de ter levado uma voadora no peito. Com os dois pés. Assista, sem preconceito por ser filme nacional. Garanto que veteranos como Bruce Willys e Sylvester Stallone (e toda a galera de “Os Mercenários) dariam um braço para ter feito um filme como este.


- x - x - x -


Alguém, pelo amor de Deus, me passa o nome do ator que faz o deputado canalha do filme? Não encontrei em canto nenhum.
Ah, e "Tropa de Elite 2" também prova que jornalista só se fode... Assista que você vai entender...

2 comentários:

Débora Leão disse...

FINALMENTE conheci teu blog.
desligada total..

e juro que não tinha visto esse post e essa primeira foto antes de postar lá. rs

pô.. o filme é sensacional e realmente, a lição mais importante é a...

JORNALISTA SÓ SE FODE
KKKKKKKKKKKKKKKKKKK

muito bom.

Débora Leão disse...

AH, estarias falando de André Matos? Ou Mattos, sei lá.