E os previews de Innistrad, ainda no seu terceiro dia, já mostram o que muita gente esperava. O retorno de uma das cinco primeiras planeswalker de Magic, em nova versão. Trata-se de Liliana, a mais sexy e rebelde de todos eles.
Na sua nova versão, Liliana está bem rápida e tem tudo para estar presente nos decks de controle (preto e azul rules! hehehe).
Quanto a história, Liliana está de volta, caçando mais um demônio para se libertar do pacto infernal que fez há um século. Ela já matou Kothoped (veja A Maldição do Véu - Parte 2) e agora vai atrás de Griselband, o principal vilão (pelo menos é o que parece até agora) de Innistrad e principal opositor de Avacyn, o anjo que renovou as esperança dos humanos e que, atualmente, está desaparecido.
Acontece que outro planeswalker "das antigas" vai retornar: Garruk Falabravo, que fora amaldiçoado por ela durante um encontro nada amigável (veja O Caçador e o Véu - Parte 1 e A Maldição do Véu - Parte 1). Garruk segue Liliana em busca de vingança, querendo recuperar os seus poderes místicos sobre a natureza.
Semana que vem, o card de Garruk será revelado, e a promessa é que seja um card dupla face... O primeiro planeswalker dupla face da história do Magic! Vamos ver no que vai dar. Até lá, continuem seguindo as novidades aqui no Caixa da Memória.
Desde ontem, no Daily MTG (wizards.com/magic), começaram os previews oficiais do novo set de Magic, Innistrad, bloco que será lançado no próximo dia 30 de setembro.
Innistrad é baseado no tema do terror clássico (em termos de flavor), num estilo que lembra muito o plano de Ravenloft, de D&D, inclusive com todo aquele clima de noite eterna. Como era de se esperar, o set possui muitos cards que usam o cemitério, como no longínquo bloco de Odisseia. Daquela época, retorna a mecânica de Recapitular, com a qual é possível lançar mágicas a partir do cemitério.
Há também um toque de tribal, com vampiros, lobisomens (de cara, os meus favoritos), fantasmas e zumbis. A grande (e polêmica) novidade da coleção fica por conta dos cards dupla face, com a mecânica de transformar. Essa mecânica vai representar coisas como a metamorfose dos lobisomens e vampiros, além de monstros "latentes" (como o Dr. Jekyll/Mr. Hyde).
A polêmica destes cards está no fato de que, em torneios draft, muitos jogadores têm reclamado que será impossível manter segredo desses cards. A Wizards preparou uma página só para explicar as mudanças, inclusive no draft, que esses cards irão causar.
Outra novidade é a habilidade Mórbido, que verifica se alguma criatura morreu no turno para causar algum efeito. Segue um exemplo abaixo para vocês entenderem como funciona:
Para acompanhar todos os cards da coleção, que promete trazer o terror para todas as cinco cores de Magic, durante a fase de previews, é só apontar seu navegador para a Galeria de Imagens de Cards de Innistrad. E para acessar informações, papéis de parede e descrições deste novo mundo, basta entrar na página da coleção, aqui.
Teus lindos olhos escondem tantos defeitos que nem sei
Se eu parasse pra contar, decerto ficaria
soterrado por misérias e mentiras
Esses teus olhos não adiantam
cedo ou tarde se desmancham
O disfarce cai e tua beleza,
antes tão sincera e fascinante
capaz de enlouquecer e de enganar
se esvai por inteiro…
Teus olhos já não me causam tanto efeito
só me fazem lembrar que não vale a pena
cair de cabeça numa história mal escrita
Teus olhos só me fazem lembrar que não vale a pena
disperdiçar-me em lágrimas sem solução
A Retropunk liberou a capa de Inacreditáveis Casos Sobrenaturais e de Magia Bruta, dois suplementos para Rastro de Cthulhu, da editora britânica Pelgrane Press e com edição nacional pela curitibana Retropunk.
"Inacreditáveis Casos Sobrenaturais" traz quatro aventuras no estilo pulp (para entender o que é pulp, clique aqui) para o RPG que utiliza o sistema Gumshoe e que tem como base jogos mais investigativos, inspirados na literatura de horror do mestre H.P. Lovecratf. São quatro aventuras prontas para uso, "Devorados na Brumas", "Tiros em Xangai", "A Morte Ri por Último" e "Dimensão Y". Para mais detalhes sobre o livro, basta clicar nesse link, redirecionando para o site da Retropunk.
Que capa FO-DA!
Já "Magia Bruta" pode ser descrito, de forma bem simplista, como um grimório de magias para o "Rastro de Cthulhu", descrevendo as variadas formas de se invocar poderes sobrenaturais. Além disso, serve como uma espécie de bestiário, descrevendo algumas das monstruosidades que os Investigadores poderão enfrentar durante uma história.
Ainda não tem data de lançamento nem preço definido. Mas que a capa é simplesmente arretada, ah, isso é!
Olá, pessoal! Esta edição do Videodrome é especial, pois é dedicada a um dos maiores estudiosos de cibercultura no mundo: Pierre Lévy. São os vídeos da palestra "Do Hipertexto Opaco ao Hipertexto Transparente", ministrada por ele durante o Simpósio Hipertexto 2010, realizado nos dias 2 e 3 de dezembro do ano passado, na Universidade Federal de Pernambuco. A palestra, especificamente, foi realizada na Concha Acústica da UFPE.
Do Hipertexto Opaco ao Hipertexto Transparente - parte 1
Do Hipertexto Opaco ao Hipertexto Transparente - parte 2
Do Hipertexto Opaco ao Hipertexto Transparente - parte 3
Do Hipertexto Opaco ao Hipertexto Transparente - parte 4
E de "brinde", segue um link para a entrevista de Pierre Lévy no Roda Viva, de 7 de janeiro de 2001, onde está disponível um trecho em vídeo de 2m8s e a transcrição completa da entrevista, além dos componentes do Roda Viva daquela noite: http://www.tvcultura.com.br/rodaviva/programa/pgm0734
- x - x - x - Este era um post que eu queria publicar desde a segunda semana de julho, mas que sempre esbarrava em dificuldades técnicas. Finalmente postei!
A editora mais porreta no mercado de mangás do país traz um lançamento que, para mim, é bastante curioso. Trata-se de uma coleção em doze volumes com grandes clássicos da literatura mundial em versão mangá.
A série foi publicada no Japão pela editora East Press e através de linguagem dinâmica dos quadrinhos japoneses, procura tornar mais acessível grande obras fundamentais da cultura mundial.
A coleção é composta pelos seguintes volumes: O Príncipe, Bushido, Moby Dick, Crime e Castigo, A Divina Comédia, O Livro dos Cinco Anéis, Dom Quixote, Um Conto de Natal, A Origem das Espécies, Guerra e Paz, Rei Lear e O Capital.
A JBC já lançou O Capital, de Marx, e Rei Lear, de Shakespeare. São em média 200 páginas em papel jornal, com preço de capa a R$19,90.
Texto publicado na edição de (11/08/11) do Diario de Pernambuco, na editoria Opinião, integrante do caderno de Economia.
Já são passados 184 anos desde a criação dos cursos jurídicos no Brasil. Ao cabo de quase dois séculos, indaga-se: como anda a educação jurídica no país?
Hoje, a formação jurídica, fim maior das escolas do direito, deu lugar ao treino concursal. A ambição acadêmica deslocou-se do eixo. Antes, os discentes almejavam alcançar a condição de juristas. Agora, é a possibilidade de conseguir um cargo público que anima a moçada. O curso de direito é, para uma legião de alunos, um meio necessário à obtenção de um emprego estável e bem remunerado. Nada mais.
As deficiências do modelo educacional brasileiro, perceptíveis desde a educação básica, são particularmente sensíveis no ensino jurídico. A baixa qualidade do ensino, aliada ao déficit de formação dos alunos desde antes do ingresso nas faculdades, desenham um cenário dantesco: milhões de graduados que, ao cabo dos cinco anos de duração do curso, estão inaptos para o desempenho de qualquer profissão jurídica.
Já são quase três milhões de bacharéis em direito no país. Desse total, apenas uns 720 mil conseguiram se tornar advogados. Presentemente, a sociedade brasileira é ameaçada pela bacharelada, que pressiona os poderes constituídos para obter à força aquilo que o mérito pessoal não lhes permitiu alcançar: a possibilidade de exercer a advocacia. Para estes, a frequência a um curso de direito já seria bastante. A apreensão efetiva do conteúdo, o conhecimento, seria circunstância acessória, relegada a um plano secundário pela enganosa aprovação na faculdade onde andaram matriculados.
O exame de ordem é, presentemente, o único mecanismo de aferição da aptidão dos candidatos ao desempenho da advocatura. Uma prova de conhecimentos jurídicos que controle minimamente a qualidade dos advogados disponíveis no mercado.
Quando violado um direito, recorrer ao Poder Judiciário é a opção. Ao advogado é confiada a postulação judicial, já que ordinariamente as partes não podem se dirigir diretamente ao juiz. É lógico, portanto, que a respectiva qualificação influi, positiva ou negativamente, no desfecho de uma demanda. Ignorando as minúcias da legislação, maus advogados fazem periclitar o direito da parte. Um profissional incompetente pode ser o único responsável pelo insucesso de uma demanda. Daí a necessidade de uma prova que permita a triagem dos candidatos ao ingresso na OAB.
A cada ano aumenta a convicção da absoluta imprescindibilidade do controle exercido por intermédio do processo seletivo que, ainda que imperfeito, serve aos interesses da sociedade. As grafias de “praso”, “prossedimento”, “respaudo” e “inlícito” são algumas manifestações denunciadoras do mais completo e irrestrito despreparo de parcela dos candidatos.
O exame da Ordem vem a preencher a lacuna deixada pela inércia do poder público na fiscalização da educação em todos os níveis, nada mais. O exame da Ordem impõe-se porque um advogado incompetente é, sobretudo, um agente fomentador de injustiças.
Ronnie Preuss Duarte
Advogado e dir. geral da Escola Superior de Advocacia de Pernambuco da OAB
ronnieduarte@edst.adv.br
Sim, meu amigos. É isso mesmo que vocês leram. Um dos vilões mais clássicos dos filmes de terror agora também fará parte do casting de personagens de uma das franquias mais motherfucka-bloodshed-ever. Por razões ($$$) que só os caras da Warner conhecem ($$$), Freddy Krueger estará disponível para os jogadores do novo Mortal Kombat 9 através de download no PlayStation Store do Brasil - e ao mesmo tempo que nos EUA! O preço dessa loucura gamemaníaca? Apenas R$10,99.
Abaixo, um vídeo que explica (WTF?!) o envolvimento de Freddy com o universo MK:
Confesso que acho que essa mistureba toda uma tremenda jogada de marketing (já achei meio tosco o Kratos de God of War...) e que não acrescenta lá grande coisa à franquia. Mas, se essa mania continuar, quem sabe não veremos duelos ainda mais sangrentos em MK9? Sei lá, um Freddy x Jason, por exemplo? :D
Neste outro vídeo, os fatalities e os x-ray do personagem. Até que ficaram criativos e sem babaquice.
Texto publicado na edição de (05/08/11) do Diario de Pernambuco, na editoria Opinião, integrante do caderno de Economia.
A sociedade brasileira está mal acostumada com a forma de lidar com a vida. Hoje em dia, quando algum problema surge, as pessoas se preocupam exacerbadamente em atacar a consequência, esquecendo-se da causa que gerou tal desordem.
Vejo tal sentimento com relação ao exame nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, onde muitos se levantam a defender sua extinção, utilizando como argumento que há milhares de bacharéis em direito sem emprego; pelo fato outros cursos não terem tal prova; pela dificuldade das provas; bem como em razão de que, já tendo se formado, o bacharel teria direito automático a exercer a profissão.
Acho tudo isso uma grande falta de senso, onde as pessoas estão esquecendo-se das reais razões do exame, bem como o que o mesmo representa. Lembro-me que quando fiz vestibular, havia quatro universidades na capital que formavam bacharéis em direito, e havia grande concorrência pelo curso.
Hoje existe uma faculdade em cada esquina da cidade, há anúncios de cursos mais baratos aqui e acolá, prometendo milhares de facilidades para os estudantes que se aventurarem nos ditos cursos. O Ministério da Educação abriu as “porteiras” para os cursos de direito, onde hoje há mais estudantes nos bancos das faculdades do que advogados atuando. Assim, alguém ou algo tinha que fazer o controle, que hoje está sendo feito pela OAB.
Todavia, é importante deixar claro que não foi a OAB que piorou ou o exame que ficou mais difícil, mas a qualidade do ensino dos alunos que piorou a ponto dos índices de aprovação terem caído vertiginosamente. Note-se que o índice de aprovação daquelas primeiras quatro faculdades continua o mesmo, onde o aumento da reprovação se deu pela entrada desses novos alunos, egressos dessas novas universidades que tudo prometem e nada fazem.
Apoio o exame da OAB como requisito para habilitação profissional, e já aprovava mesmo antes de fazê-lo, e todos os alunos quando começam o curso sabem que tem que fazê-lo também. Se há igualdade entre Juiz, Promotor e Advogado, por que os dois primeiros fazem provas e este último não?
Custo a crer nos que dizem que o exame deve acabar porque outros cursos não o fazem. Em verdade, deveria ser o oposto: os outros cursos é que deveriam ter tal prova enquanto “peneira” de qualidade dos formandos. Li hoje um brilhante artigo na página da OAB, falando exatamente sobre isso, e sobre a falta absoluta de razão aos argumentos de quem se insurge contra o exame, e não poderia deixar de expressar minha opinião sobre assunto.
À OAB, meus parabéns pela defesa do exame, pois é exatamente isso que se espera de uma entidade de classe. Aos estudantes de direito: estudem.
Na última segunda-feira, a Retropunk Game Design, editora que está revolucionando o mercado de RPGs no Brasil, disponibilizou o suplemento O Pesadelo de John Hughes, um novo cenário para o RPG lançado recentemente pela editora, Fiasco, de Jason Morningstar.
"O Pesadelo de John Hughes" é escrito por Jonas Sckazinski e é uma homenagem ao famoso diretor de comédias, John Hughes. O suplemento reúne elementos de alguns dos filmes mais famosos do cineasta, filmes estes que têm em comum o fato de suas histórias acabarem de formas desastrosas - poderia ter algo que combinasse mais com o clima de Fiasco?
Antes de ser um cenário, O Pesadelo de John Hughes é uma dedicatória a este grande gênio da comédia que deixou saudades (acesse http://pt.wikipedia.org/wiki/John_Hughes e conheça mais sobre John Hughes).
Grande parte de seus filmes, como Férias Frustradas, Curtindo a Vida Adoidado e (porque não?) Esqueceram de Mim, possuem elementos perfeitos de uma história de Fiasco (pelo menos para algum dos envolvidos).
Como o tom desse cenário é mais leve, recomenda-se o uso das tabelas de Virada e Conclusão do Fiasco Companion, mas as tabelas originais podem tornar as coisas mais divertidas e perigosas e, quem sabe, a sua história acabe com o garoto esquecido em casa acaba brutalmente atropelado pelo diretor escolar obcecado em pegar o rapaz que cabulou a aula!
*Na busca do IMDb.com, o nome que aparece para esse filme é o australiano, não o original americano - e não tem a versão (correta) do nome em português!
Von Trier envereda pela ficção científica para explorar o mal estar das relações humanas e a nossa pequenez diante do inevitável
Não é qualquer um que pode se dar ao luxo de ser Lars Von Trier. Diretor instigante, de filmografia contestadora, iconoclasta por excelência, ele foi protagonista de alguns dos momentos mais polêmicos e transformadores do cinema. Foi um dos cabeças do Dogma 95, movimento estético-político que chacoalhou os alicerces da indústria cinematográfica ao se opor às grandes produções, recorrendo a uma linguagem mais direta e sincera, similar ao lema do Cinema Novo (“uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”). A câmera na mão era literal, a qualidade da imagem lembrava filmes caseiros e as locações passavam longe dos estúdios.
Mais recentemente, Von Trier foi protagonista de um dos maiores constrangimentos dos últimos anos em Cannes. Com declarações que flertavam com o nazismo (chegou a afirmar, ipsis literis, que entendia Hitler), Von Trier terminou banido do festival, considerado persona non grata e conquistando a antipatia de muitos nomes do feudo cinematográfico.
No entanto, para os espectadores, aqueles para quem realmente importa fazer cinema, Von Trier parece ter saído incólume de Cannes. Talvez, revigorado. Melancolia (Melancholia, 2011), que era favorito no festival e só não saiu consagrado de lá por conta da boca grande do diretor, responde de forma excelente às expectativas do público.
Von Trier ousa em nos entregar uma ficção científica que nos faça pensar, coisa que poucos filmes do gênero conseguiram (como “2001 – Uma Odisséia no Espaço”, de Kubrick, e “Gattaca – A Experiência Genética”, de Andrew Niccol), ao mesmo tempo em que se dispõe a criticar o vazio dos ritos sociais, a esterilidade emocional do contemporâneo e a fragilidade humana diante do inexorável.
“Melancolia” narra a chegada do planeta homônimo e até então desconhecido, que está em rota de colisão com a Terra, e o quanto esse fato está afetando as pessoas. Dividido em duas partes claramente demarcadas (não só pela narrativa, mas também pela fotografia e pela ambientação), somos apresentados às duas personagens nucleares da trama: Justine (a bela Kirsten Dunst, que levou o prêmio de melhor atriz em Cannes 2011), entregue a uma depressão tão angustiante que nem mesmo no dia do seu casamento ela consegue esboçar felicidade sincera; e Claire (Charlotte Gainsbourg, ótima, que também atuou em “O Anticristo”), a irmã sensata e ordeira de Justine, cuja necessidade de estar preparada para tudo desmorona diante da catástrofe anunciada.
Abertura repleta de momentos deslumbrantes visualmente
As alegorias envolvidas no filme são muitas, a começar pela abertura, uma das mais lindas que já vi. A combinação entre a passagem de “Tristão e Isolda”, de Wagner, e a câmera super lenta (que faz parecerem rápidas aquelas que já estamos acostumados a ver na TV) causa um impacto estético soberbo, não apenas encantando os olhos, mas também invadindo a alma do espectador. É a exata sensação do apocalipse: é impossível escapar. A alegoria mais óbvia talvez seja justamente essa: a melancolia, que dá nome ao planeta fictício, é muito maior do que imaginamos, causando-nos medo proporcional, e por mais que tentemos, não seremos capazes de escapar dela. No entanto, teremos duas formas de lidar com ela. A primeira é a resignação, após todo o sofrimento, em que sairemos mais fortes, mais maduros. A segunda é o descontrole, que nos destrói antes mesmo do inevitável chegar.
Justine (Dunst) e Claire (Gainsbourg): dueto impecável
A veia iconoclasta de Von Trier se manifesta especialmente na primeira parte de “Melancolia”, a que narra a festa de casamento de Justine. Nela, vemos a acidez com que o diretor disseca as relações familiares e os ritos sociais inerentes ao convívio humano. A cena mais amarga, certamente, é a que o cunhado de Justine, John (Kiefer Sutherland), chama a sogra, Gaby (Charlotte Rampling) para o momento dos noivos cortarem o bolo de casamento. Eis que então Gaby dispara toda as mágoas que sente do mundo em simples quatro frases, revelando o quanto somos hipócritas em dar grandes significados a coisas tão bestas enquanto ignoramos (ou simplesmente perdemos) outras, muito mais elevadas.
É curioso como toda a narrativa se desenvolve num espaço relativamente pequeno – uma mansão de campo, de arquitetura clássica – ao mesmo tempo em que é permeada por uma universalidade de temas. Uma junção perfeita entre macrocosmo trágico (o apocalipse astronômico) e microcosmo desiludido (a profunda depressão de Justine e o desespero de Claire).
Quanto às atuações, todo o elenco está de parabéns. Dunst e Gainsbourg se revelam uma bela dupla, com a oposição Justine x Claire bem delineada pelas duas atrizes. Sutherland, depois de todo o sucesso do seriado "24h", parece ter aprendido a atuar, o que é muito bom para ele. E o restante, mesmo em aparições curtas, não decepciona.
Já com relação à técnica, é impossível não notar o ranço do Dogma 95 na câmera propositadamente tremida, inconstante, e nos cortes bruscos que lembram uma Novelle Vague revisitada. São tantos que, por vezes, a sensação de vertigem é inevitável. É uma escolha que cansa um pouco e que torna o desenrolar das cenas meio confuso, especialmente na primeira parte, mas nada que faça menor esta obra tão aguardada.
Com todos essas características a favor, Von Trier sairá mais uma vez aclamado, com um filme denso em termos estéticos, temáticos e narrativos, disparando petardos contra as tradições que (inutilmente?) insistimos em manter e na fragilidade da raça humana diante de forças superiores e incontroláveis.
Melancolia
Nota: 9.0/10
- x - x - x -
(Obs: Melancolia só não levou um 10 porque mudei os meus conceitos para atribuir notas aos filmes. Apesar de ainda muito subjetivo, tentei dar uma "enxugada" no que levo em conta para pontuar e na forma como esses fatores se traduzem em números. Na minha forma anterior, seria um 10, com certeza.)
Fogo queimando a garganta
Veias estuporadas
Rubro estouro de manada
Galopando nervos saturados
Insuportável ar viciado
Podridão ao redor
Os confidentes são ilhas raras
Preciosas fatias de alegria
O resto, azedo veneno
Exposição de quadros enfadonhos
O copo já esborra de cólera
Periga virar, manchando o tapete da sala