sábado, 24 de setembro de 2011

It's the end of the world as we know it... and I don't feel fine.


A notícia soou como um forte golpe. Passei cerca de cinco minutos, inerte em frente ao computador, lendo linha por linha da breve publicação no site oficial sem querer, em vão, acreditar no que estava lendo. O R.E.M., uma das bandas mais cultuadas do cenário alternativo norte-americano, estava decretando seu fim. Uma notícia que muitos fãs ardorosos, inclusive este que vos escreve, recebeu com um misto de tristeza e incredulidade.

Foram trinta e um anos de uma carreira de altos e baixos, refletidos ao longo de quinze álbuns lançados e diversas turnês mundiais, com duas passagens pelo Brasil. Sem dúvida a banda de Athens (na Georgia, EUA), formada por Michael Stipe, Peter Buck, Mike Mills e Bill Berry (que saiu do grupo em 1997, após um aneurisma) deixará órfãos milhares de fãs espalhados pelo mundo. O término da banda de certa forma já era esperado, uma vez que o som contagiante de outros tempos (quem é fã de verdade e já ouviu discos como "Automatic for the People" e "Monster" sabe do que estou falando) foi dando lugar a uma atmosfera mais densa, melancólica, quase como se anunciasse uma despedida.

Meu primeiro contato com R.E.M. se deu aos nove anos de idade, quando eu ouvia e cantava junto (mesmo sem saber a letra, e o nome da canção) de "Shiny Happy People". Era impressionante como a música conseguia prender minha atenção. Toda vez que tocava numa rádio, ou algum vizinho colocava o vinil do "Out of Time" pra tocar, a reação era imediata. Só depois de muito tempo, por volta dos treze, quatorze anos, que eu descobri o nome da banda que tocava aquela música (lembro que na época eu achei um nome totalmente estranho), e comecei a descobrir que a banda ia muito além daquela canção animada. Foi quando conheci "Losing My Religion", do mesmo disco de "Shiny Happy People".


Além de contar com uma melodia poderosa, a faixa trazia uma das marcas registradas de Michael Stipe: as letras. Segundo o próprio Stipe, escrever tais letras sempre foi um processo de experimentação, de onde muitas vezes grande parte delas não tinham nenhum tipo de conexão. Passada a admiração com música e clipe (para quem não sabe, o clipe de "Losing My Religion" foi um dos mais premiados no ano de seu lançamento, em 1991, e até hoje é considerado um marco na indústria do videoclipe como a conhecemos), descobri o disco que é considerado por mim o melhor da banda, o "Automatic for the People". O choque começou logo com a audição do primeiro single, "Everybody Hurts".


Com letras mais densas e uma melancolia totalmente opostas ao clima descontraído do disco anterior, "Automatic for the People" é considerado pela crítica especializada, e por grande parte dos fãs, como o melhor disco da banda, que ainda conta com belíssimas faixas como "Man on the Moon", "Sweetness Follows", "Nightswimming" e "The Sidewinder Sleeps Tonite". Outro disco cujas faixas gosto bastante é o agitado "Monster", cujos destaques são "What's the Frequency, Kenneth?", "Bang and Blame" e "Crush with Eyeliner".


Outras músicas marcantes apareceriam nos discos seguintes ("Up", "Reveal", "Around the Sun", "Accelerate" e "Collapse Into Now"), mas nada que faça tomar o posto de "Automatic for the People" como meu disco preferido. Separei cinco faixas não tão conhecidas do grande público, mas que são fantásticas. Seguem:


A primeira é "Bittersweet Me", do disco "New Adventures In Hi-Fi", de 1996. Coincidentemente, foi o último disco que contou com a participação do ex-baterista e membro fundador, Bill Berry:



A segunda é "At My Most Beautiful", do álbum "Up", de 1998, considerado por muitos fãs como um dos discos mais melancólicos da banda. Passei muito tempo sem ouvir esta música, não porque ela é ruim, mas por uma série de lembranças ruins que uma simples audição desencadeava:


A terceira é "E-Bow the Letter", também do "New Adventures in Hi-Fi", contando com a participação da cantora e poetisa Patti Smith, uma das principais inspirações de Michael Stipe:


A quarta faixa é "It Happened Today", do último disco da banda, "Collapse Into Now", lançado em março deste ano. A faixa conta ainda com a participação de Eddie Vedder, vocalista do Pearl Jam nos vocais.


E a quinta é "Nightswimming" do disco "Automatic for the People", claro. Uma das canções mais bonitas compostas por Michael Stipe.


O R.E.M. vai deixar saudades, além de um vasto legado para a música contemporânea. Para nós, fãs, resta esperar pelo lançamento da coletânea "Part Lies, Part Heart, Part Truth, Part Garbage: 1982-2011", com lançamento previsto para novembro. A coletânea promete englobar toda a carreira da banda de Athens, inclusive os discos lançados pela EMI e pela Warner Bros.




Thiago divide-se em dois hemisférios: um deles é hacker inveterado, o outro jornalista devotado. 27 anos, estudante da UFPE. Consumidor voraz de música, cinema, games, livros, quadrinhos e tecnologia. Não necessariamente nesta ordem.

2 comentários:

Danilo Aguiar disse...

Me arrepiei com seu post. Quer me fazer chorar, menino? R.E.M. é minha infância, senti o mesmo quando recebi essa notícia. Agora, só nos resta aproveitar o que ficou: a boa música deles, que pra mim não dá pra enjoar. rs

Débora Leão disse...

Há tempos eu não via um relato tão apaixonado de um fã. Bandas favoritas, assim como filmes, livros e etc... são parte de nós, eu vejo assim. O modo como nos marcam, como se associam a fases de nossas vidas é muito intenso. Tanto que é difícil conceber o fim de algo com o qual se vive junto. Mas as obras não são finitas, estarão sempre lá para quando forem necessárias. Esse é o maior consolo.