quinta-feira, 1 de setembro de 2011

[Deu no Jornal] Roqueiros heróis em HQs

Texto publicado na edição desta quarta (31/08/11) do Jornal do Commercio, no Caderno C

POP Smiths é mais nova banda a ganhar gibi. Histórias são baseadas nas suas músicas. Beatles, Kiss e Nirvana já tiveram revistas

Ingrid Melo
imelo@gmail.com

Na letra da canção Rubber ring, dos Smiths, Morrissey e Johnny Marr afirmam: “Don’t forget the songs that made you smile/ and the songs that made you cry (…) and the songs that saved your life” ("“Não se esqueça das canções que te fizeram rir, nem das canções que te fizeram chorar (...) nem das canções que salvaram sua vida”"). O escritor norte-americano fanático por quadrinhos Shawn Demumbrum levou o conselho a sério e resolveu transformar a música em uma das 13 histórias em quadrinhos já confirmadas no projeto Unite and Take Over, criado por ele com o objetivo de transformar as canções da quarteto inglês em gibis.


A ideia de Demumbrum é usar as letras dos Smiths como ponto de partida para histórias de quatro a oito páginas em que Morrissey e Marr serão uma espécie de super-heróis, como não poderia deixar de ser em uma HQ do país da editora Marvel, responsável pelas mais importantes e populares revistas de heróis e vilões. Mas a inspiração do norte-americano vai além dos quadrinhos de Homem Aranha e Quarteto Fantástico que lia na infância. Segundo ele afirmou em uma entrevista ao jornal The Guardian, as músicas da banda britânica foram responsáveis por moldar sua personalidade na adolescência. "“Há algo em Please, please, please, let me get what I want que ficou na minha psiquê”", diz.


Possivelmente não apenas na dele, já que 22 artistas compraram imediatamente a ideia de responder a Demumbrum o que vem em suas cabeças quando ouvem uma música dos Smiths. Também já foram arrecadados mais de US$ 10 mil além do planejado pelo escritor quando lançou o projeto na plataforma Kickstarter, em que fãs podem colaborar com a ideia por meio de quantias em dinheiro que mais tarde serão revertidas em exemplares da revista e outros mimos. São aceitas contribuições entre US$ 5 e US$ 600 até o dia 11 de setembro. O lucro será usado para a impressão de mais cópias.


Quebrar expectativas, aliás, tem sido marca do Unite and Take Over. Foram confirmadas além da história de Ruber ring, versões para as músicas Death at one'’s elbow, Shoplifters of the world unite, Girlfriend in a coma, Stop me If you think you"ve heard this one before, Cemetry gates, That joke isn't funny anymore, How soon is now?, How soon is now?, Pretty girls make graves, Panic, What difference does It make?, Handsome devil e Suffer little children. Porém, Demumbrum afirma que mais ilustradores têm mostrado interesse, o que deve resultar em uma HQ com um número de páginas bem maior do que as 72 planejadas inicialmente. Os gibis devem ser lançados em novembro, durante a Comic-Con de Tucson, Arizona. Apenas depois que todos os que colaboraram com a iniciativa receberem suas cópias, os livros serão levadas para as lojas físicas.


ROCK’'N’'ROLL GRÁFICO
Embora os Smiths estejam debutando em novelas gráficas, não é de hoje que bandas de rock têm suas trajetórias transformadas em HQs. A assiduidade das estrelas da música nas histórias em quadrinhos é tanta que foram criados para eles selos específicos, como o Rock'’n’'Roll Comics, da década de 1990. A série foi resgatada pela Bluewater Productions em 2009, com gibis como o Hard rock heroes (em que estavam nomes como Kiss, Metallica, Ozzy Osbourne e Joan Jett) e The spirit of ‘'60s (Bob Dylan, Jimi Hendrix e Janis Joplin).

A Marvel já apostou em levar para os quadrinhos músicos como Alice Cooper, que ganhou sua primeira versão na edição 50 da série Marvel première (1979), A Valiante lançou, em 1993, uma história em que seu Shadow Man duelava com a banda de hard rock Aerosmith, já a Revolutionary Rock dedicou toda uma série às bandas de rock pesado e Pearl Jam apareceu na história Northwest storm approaching, Pink Floyd, por sua vez, distribuiu sua HQ The Pink Floyd super all-action official music programme for boys and girls durante a turnê Wish you were here, em 1975. Além deles, ganharam versão em desenho AC/DC, Soundgarden, The Doors, The Who, Nirvana, Led Zepplin, Rolling Stones, Elvis Presley e tantos outros.


Dentre esses, porém, o quarteto do Kiss merece destaque. A banda de rock mais quente do mundo ingressou no universo dos gibis em 1977, também pela Marvel, para se tornar a preferida dos ilustradores. Milhares de outras histórias surgiram clandestinamente, com versões não autorizadas de biografias do grupo, álbuns e singles. Apenas dentre as oficiais, se somam as 1.280 páginas da Kiss kompendium, coletânea lançada em 2009 pela Collins Design que reúne 32 anos de gibis publicados por diversas editoras.


Caminhando ao lado dos Quatro Cavaleiros do Apocalipse estão os Beatles, protagonistas de quadrinhos nos quatro cantos do mundo. O mais recente foi lançado na França no final do ano passado, pela editora Conrad. O pequeno livro dos Beatles é uma biografia da banda e foi ilustrado por Hervé Bourhis, que já havia assinado o elogiado Pequeno livro do rock. Vários álbuns dos Garotos de Liverpool também serviram como base para HQs. Entre as mais famosas, estão as histórias do Yellow submarine e do Sgt. Pepper"s lonely hearts club band, da Gold Key.

FEITO NO BRASIL
Em agosto, foi a vez do movimento mineiro Clube da Esquina,da década de 1960, se transformar em história em quadrinhos. O livro foi lançado pela editora Devir, depois de quatro anos como exposição virtual, e funciona como uma documentário contado pelos próprios integrantes. Na novela gráfica, estão passagens da juventude de Milton Nascimento, Lô Borges, Flávio Venturini, Wagner Tiso, Beto Guedes, Fernando Brant, Toninho Horta e os demais integrantes do Clube. Entre as aventuras vividas pelo grupo, estão algumas que resultaram em músicas que marcaram a MPB. É o caso de Para Lennon e McCartney, Travessia e Dona Olympia, além de discos como Milagre dos Peixes.

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