sábado, 26 de março de 2011

Adeus a Lula Côrtes


Confesso uma falha grave: mal conhecia a obra de Lula Côrtes. Na verdade, não conhecia praticamente nada do cara, apesar de saber da sua importância. Com a sua morte nesta madrugada de sexta para sábado, fica uma lacuna não só para mim mas também para outros que não tiveram a oportunidade de conhecê-lo, de reconhecê-lo, ainda vivo. 

Como registro aqui no Caixa da Memória, fica uma matéria do Diario de Pernambuco de hoje e um vídeo do Observa & Toca - Ao Vivo em Estúdio.


Velório de corpo de Lula Côrtes será na Câmara Municipal

Redação do DIARIODEPERNAMBUCO.COM.BR

O corpo do cantor, compositor, poeta e pintor Lula Côrtes deve ser velado na Câmara Municipal de Vereadores de Jaboatão dos Guararapes a partir das 10h deste sábado. O local e o horário do enterro ainda estão sendo definidos. O músico faleceu na madrugada deste sábado, cerca de uma hora depois de chegar ao Hospital Barão de Lucena, no bairro do Cordeiro, no Recife.


Lula Côrtes sofria de um câncer que começou na garganta há cinco anos, mas se espalhou por outros lugares do corpo. Ele tinha feito quiomio e radioterapia, mas de acordo com amigos próximos, continuava bebendo e fumava quase três carteiras de cigarro por dia. No mês de janeiro ele teve Hepatite C e, em seguida, erisipela, o que o deixou ainda mais fragilizado.
Ainda assim, o músico continuava trabalhando. Os últimos shows foram na semana passada - quinta, sexta e sábado - no Sesc Belenzinho, em São Paulo. Ele e Zé da Flauta fizeram participações especiais no show de Alceu Valença, relembrando a década de 1970.
Na madrugada da terça para a quarta-feira, Côrtes passou mal e foi socorrida para uma UPA em Jaboatão, sendo liberado em seguida. Decidiu então, a convite de uma amiga, continuar o tratamento numa pousada em Maracaípe. "Na última quinta-feira ele teve uma melhora surpreendente, mas na sexta de manhã já amanheceu muito pior. Foi quando entrei em contato com amigos para trazê-lo ao Recife", contou o produtor e amigo, Lulinha. Lula Côrtes deixa seis filhos. O primeiro casamento foi com a cineasta Kátia Mesel.
Carreira - Nascido Luiz Augusto Martins Côrtes, Lula tem seu nome marcado na música popular brasileira por dois discos lançados na primeira metade da década de 1970, hoje lendas na internet pelo alto preço cobrados pelos vinis. Em 1972, ele gravou com o hoje cartunista Laílson o LP Satwa, pela Rozemblit. Em 1974, com Zé Ramalho, finalizou o álbum duplo Paêbiru - O Caminho da Montanha do Sol, mas a gravadora pernambucana, atingida por uma grande enchente, só conseguiu salvar poucas cópias, que se tornaram raridades. Ele ainda produziu e fez o desenho da capa de No Sub Reino dos Metazoários (de Marconi Notaro).
Os três trabalhos chegaram a liderar a lista de discos mais vendidos na categoria World Music quando foram lançados em 2008 nos Estados Unidos por uma gravadora independente, a Time-Lag Records. O relançamento em CD de Paêbiru no Brasil fazia parte dos planos de Lula Côrtes, que destacou ao Diario: "Na verdade, o disco não é só meu e de Zé Ramalho, é de toda a galera do movimento underground nordestino da época. Na ficha do Paêbirú, aparecem muitos nomes, como Alceu Valença e Geraldo Azevedo", afirmou.

Capa do lendário Paêbirú
(imagem não constante da matéria original)

Côrtes ainda lançou os discos O Gosto Novo da Vida, Rosa de Sangue, A Mística do Dinheiro, O Pirata, Nordeste, Repente e Canção e Lula Cortes & Má Companhia. Somente este último teve distribuição direta em CD. Além de músico, Lula Côrtes lançou obras de prosa e poesia, como o audiobook O lobo e a lagoa e livros como Hábito ao vício, Rarucorp, Bom era meu irmão, ele morreu, eu não e Amor em preto e branco e se dedicava atualmente às artes plásticas. Em reconhecimento ao seu trabalho literário, a União Brasileira dos Escritores de Pernambuco (UBE/PE) deu-lhe a carteira de sócio efetivo, retroagindo o ano de admissão a 1972, quando o multiartista lançou o Livro das Transformações.

Da sua experiência recente como assessor de Cultura da Prefeitura de Jaboatão, Lula extraiu matéria para pintar aquarelas retratando o cotidiano dos habitantes do município, seus aspectos ecológicos, o patrimônio material e imaterial da cidade. Sua meta era chegar a 365 peças. A primeira exposição, com 35 aquarelas, intitulada Fragmentos, foi aberta em setembro do ano passado.




OBSERVA & TOCA - Lula Cortes from Recheio Agência Conteúdo on Vimeo.

E mais: a história da história de Paêbirú (via O Globo)

Que Lula Côrtes seja sempre lembrado!

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