Tron Legacy chega após 28 anos de espera e mostra que não é somente um filme com efeitos especiais de última geração, além de possuir uma das melhores trilhas sonoras dos últimos tempos.
Acho que nunca esperei tanto por um filme como Tron Legacy (desculpem-me os puristas, mas me acostumei tanto a chamar pelo nome original desde o primeiro teaser que simplesmente não consigo chamar Tron - O Legado). Quando li as primeiras notícias "valendo" a respeito do filme, fiquei elétrico. Eu precisava ver Tron Legacy! Era algo muito mais forte que o simples apelo do novo. Havia uma carga emocional maior do que o normal. Tron (1982) fez parte da minha infância. A continuação de Tron era, de uma forma estranha, a continuação de minha infância e o ritual de passagem para algo maior.
"Um mundo dentro do computador onde o homem nunca esteve. Até agora." |
O mesozóico Tron foi um dos primeiros filmes a abusar da computação gráfica, numa época em que interface gráfica ainda era uma lenda e programadores/designers tinham que digitar milhares (às vezes, milhões) de linhas de código para produzir alguns poucos minutos de imagens. Um filme como Toy Story, por exemplo, levaria uma vida para ser feito. Imagine ter que calcular cada posicionamento de cenário em 3D, somando ainda volume e textura dos objetos, sem poder visualizar tais elementos desde a sua construção... CG era algo trabalhoso em 1982...
Mas Tron saiu - com menos de 10 minutos de cenas totalmente computadorizadas, mas saiu - com uma inovação visual que não foi bem recebida pelo público, apesar de ser reconhecida pela importância técnica para o cinema que viria depois. Tron abriu as portas para um cinema de imagens virtuais em interação com o real, de fato. Coisas como Avatar deveriam agradecer a filmes como Tron por terem visto a luz do dia.
Para os padrões de hoje, o filme é arcaico e esdrúxulo, totalmente kitsch no seu colorido berrante e cenários que lembram videogame. Mesmo tendo sido "esquecido", como alguns gostam de afirmar, Tron resistiu no imaginário pop por quase três décadas - e no final, é isso que conta para que algo entre para a história do cinema, não?
Pois bem, essa permanência permitiu que Tron Legacy fosse concebido. Só que diferentemente do primeiro, cuja temática e estética foram avançados demais para o seu tempo - o medo das inteligências artificiais só seria mainstream anos mais tarde - a versão 2.0 veio com uma campanha publicitária massiva, através de redes sociais, vídeos em eventos como a Comic Con e no YouTube e prequels em duas hqs e um game. Não havia como evitar imergir no universo de Tron Legacy.
A Grade: digital, árida, intensa |
Atenção na música que toca na cena do arcade... #retrôfeelings |
As syrens, preparando Sam para as... |
... discwars! |
CLU e Sam |
Fechando o inimigo na curva... |
... e strike! (os restos da moto laranja lá atrás) |
Quorra: chamando Mayana Moura pra ver quem tem o melhor cabelo de playmobil (Olivia Wilde ganha essa fácil!) |
Kevin Flynn: zen é com ele |
Zuse: um Ziggy Stardust da Grade |
A ação na parte final é intensa, com lutas bem sincronizadas e com as lightjets, a evolução das lightcycles. Sério, é puro delírio nerd ver um combate aéreo misturado com o rastro de fatal de energia sólida. É lightcycle literalmente em três dimensões!
Lightjets = cool! |
Um pouco de lag – fechando esta resenha com a já tradicional “lavagem de roupa suja”, Tron Legacy tem poucos furos de roteiro, ainda assim perdoáveis, e interpretações na medida. Mesmo o novato Garret Hedlund (Quatro Irmãos, Eragon, Troia) cumpre bem a demanda de carregar o legado. Jeff Bridges dá show até calado (impressionante como depois de velho o cara tá arrasando). Outro brinde para os fãs é Bruce Boxleitner, revivendo seu personagem do filme original. Acho que só Olivia Wilde ficou meio offline. Sua Quorra tem momentos bobinhos (a piada de Júlio Verne é ótima) assim como momentos mais sérios, mas ela flutua tanto entre eles que não dá para formar uma personalidade realmente marcante da personagem, ficando seu carisma mais a cargo de sua beleza.
Quanto a CLU, já não é novidade que o personagem é intrepretado por Bridges, mas com uma máscara digital, que o faz ter o mesmo rosto de quando era um jovem galã de filmes de ação/aventura. A intenção era que CLU, como programa, não envelheceu, logo não poderia demonstrar as marcas do tempo que inevitavelmente apareceram no rosto de Bridges. A técnica ainda não chegou à perfeição, uma vez que a fluidez dos músculos faciais ainda é notadamente artificial, mas já faz suficiente milagre – destaque para a cena do discurso inflamado diante dos programas-soldado.
Bridges e o capacete que capturou suas expressões faciais... Tá bom, então, né? |
Os maiores parabéns ficam para a equipe de direção de arte e de CG do filme. Os designers devem ter babado horrores durante a maior parte de Tron Legacy, seja no figurino, nos veículos ou nos cenários. Tudo remetendo ao filme original, mas sem os exageros berrantes daquela paleta de cores (acho que a galera tava on drugs quando aprovou e realizou aquele visual... :D). O filme tem um tom sombrio, realçado pelas geometrias bem marcadas em todos os objetos do filme.
Deuses, quase ia esquecendo! O high ultra mega level parabéns do filme vai pro Daft Punk, que conseguiu a proeza de criar a melhor trilha sonora que já vi em muito tempo! Sério, nunca vi uma trilha que casasse tão bem com a imagem que está na tela. Não são à toa as boas críticas ao duo da electro music, que já fez hits fodásticos como One More Time (lembra de Interstella 5555?), Around The World (uma das coreografias mais escrotas já vistas num videoclipe) e Technologic (simplesmente arrasadora). Recomendo muitíssimo pra quem quiser um pouco de música eletrônica na vida, mas não tem paciência pra uma rave de 79 horas. :D
Tron Legacy
NOTA: 9.0/10
Extras:
-Um especial para o portal Terra, produzido pela excelente jornalista cultural, Carol Almeida (@caroltypes)
-Videoclipes de Derezzed, da trilha sonora de Tron, by Daft Punk
Versão 1 (com cenas do filme)
Versão 2 (original - ótimo mix entre o visual de Tron 1 e 2)
3 comentários:
Só concordo com as partes relativas a Jeff, O Grande Lebowski!!! O resto é balela...
Pra tu meu, caro.
Como você costuma dizer, teimosia é uma arte, quando aliada ao gosto, então...
So sorry. O filme é ruim pra você e bom pra mim. Assim como você acha Ilha do Medo um filmaço e pra mim, aquilo foi um maiores lixos que já assisti. Se tu se atreve a chamar aquilo de suspense genial ou algo assim, só lamento...
Além do mais, existe a experiência subjetiva. Um filme toca cada pessoa de forma diferente. Há quem não veja a mínima graça nas trilogias Senhor dos Aneis e Star Wars, mas veja só, nós dois adoramos esses universos, em medidas diferentes e por motivos diferentes! Se Tron Legacy me foi tão legal, é por motivos pessoais - podemos chamar de egocentrismo mesmo - e se você não gostou, idem. O que não dá pra dizer é que o filme é ruim: tu mesmo nem o classificou como um dos piores filmes do ano na tua lista do Caio em Coluna! O que de certa forma, já mostra que, apesar de não teres gostado, não foi de todo mal.
Enfim, gosto é feito... fígado! Cada um tem o seu e sabe o trato que dá a dele. :D
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