Texto publicado na edição desta quarta (23/02/11) do Jornal do Commercio
Schneider Carpeggiani
De autor desconhecido, o perfil do Twitter @Discographies já conta com mais de 200 mil seguidores e lança mão dos 140 caracteres para discorrer sobre a carreira de uma banda/artista. Sua definição dos sete primeiros álbuns do Radiohead é sensacional: “1 - Nada de novidade, 2 - Nada de ‘alternativo’, 3 - Nada de progressivo, 4 e 5 - Nada deste planeta, 6 - Nada que se mexa, 7 - Nada (convencionalmente) que possa ser vendido”. Mas como ele, ou nós, julgaríamos The king of limbs, lançado oficialmente sábado, mas “vazado” (também oficialmente) pelo grupo na sexta? Antes da definição, vamos com calma e analisemos os fatos.
Na quinta passada, o site da Vice publicou a primeira resenha do novo álbum do Radiohead, que pôde ser ouvido apenas uma vez pelo repórter e veio embrulhada por uma crítica bem elogiosa, encerrada, no entanto, pelo duvidoso oxímoro “clássico instantâneo”. Se clássico como instantâneo? Se instantâneo como clássico? A pressa/a pressão de dar a notícia antes de todo mundo, de ser o primeiro, o número 1 coloca a imprensa em ciladas perigosas, sobretudo quando precisamos lançar um veredito sobre um produto artístico na velocidade com que hambúrguer com batatas fritas são servidos.
Convenhamos: no caso de um artista como o Radiohead é muito mais conveniente (leia-se fácil) elogiar do que armar um argumento negativo. E mais: é perigosa uma expressão como “clássico instantâneo” em se tratando do Radiohead, que fez do elemento surpresa, do choque, o RG da sua carreira depois de O.K. Computer. A palavra clássico num álbum que mal foi lançado, ou melhor nem foi lançado, implica que seus códigos não causam surpresa alguma, que tudo ali já foi digerido. E mesmo que seja um grupo pop em termos de mercado (afinal, vende milhões de discos e tal), sua postura está longe de ser pop ou instantânea.
The king of limbs chega para nós cercado por “ideias”, foi anunciado como um “álbum jornal” (seja lá o que isso signifique), e cumpre a missão de manter os fãs mais jovens angariados com In rainbows, grande álbum que, como o @Discographies tão bem nos lembrou, não foi convencionalmente vendido. Na verdade, o Radiohead, nos últimos tempos, foi engolido por ideias, por estratégias de marketing, e cada vez menos é lembrando por suas músicas. The king of limbs é daqueles discos que você escuta e parece se obrigar mais a gostar do que a gostar de fato. O que não é difícil.
As músicas do novo álbum não passam da diluição de tudo o que esses ingleses têm feito na última década, só que sem melodia, sem nada que marque, sem interjeições de espanto. Tanto é que The king of limbs tem sido mais lembrado pelas dancinhas de Thom Yorke no clipe de Lotus flower, espécie de “single ladies indie”.
Talvez o que o grupo precise daqui para frente para causar estranhamento, para deixar de ser só um “clássico instantâneo”, seja lançar um álbum de fato ruim, fraco, longe do mediano aceitável de The king of limbs. Talvez depois de um fracasso, o grupo recupere a insegurança, o lado creep de ser, que muitas vezes faz um artista ir além de si mesmo para provar que ainda é relevante. Se fôssemos o @Discographies, esse disco mereceria os seguintes caracteres: “Nada demais desta vez”.
4 comentários:
Não sou tão fã de Radiohead assim pra comentar, exceto pelas mais conhecidas, então, vou crer no que a sua crítica diz...
A crítica, na verdade, é de Schneider Carpeggiani, do Jornal do Commercio.
Pay atention, please. =P
Tanto faz... Se vc pôs aqui é pq, no mínimo, aprecia o que foi dito, então...
Dei uma escutada também, antes da publicação do texto de Schneider. Acabei concordando com ele: nada demais.
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