Darren Aronofsky nos presenteia com uma obra intensa, mágica e assustadora sobre uma bailarina obcecada pela perfeição. E ainda nos permite contemplar Natalie Portman no papel da sua vida.
Cisne Negro (Black Swan, 2010) já prometia do trailer. Como não se arrepiar com a cena em que Natalie Portman, angustiada, arranca um pequenina pena de suas costas? Aquilo era surreal para uma história que não se vendia como um filme de terror barato, desses que tem 37 continuações só para encher os bolsos dos produtores. A história de Nina, a bailarina que aos poucos se entrega ao seu lado mais sombrio em nome da perfeição, tinha tudo para ser mais um suspense besta cheio de megalomanias. Mas não é.
Um espetáculo desde a abertura
Darren Aronofsky, diretor desta preciosidade, tem um currículo respeitável. Dentre suas obras, "Pi" (1998), sobre um matemático em busca de um padrão numérico que responda os mistérios do universo; "Réquiem Para um Sonho" (Requiem for a Dream, 2000), sobre as agruras de quatro viciados, incluindo (ousadamente) uma senhora de idade; "A Fonte da Vida" (The Fountain, 2006), uma viagem esotérica e psicodélica entre vidas passadas (ou seriam realidades paralelas?); e "O Lutador" (The Wrestler, 2008), que concorreu a dois Oscar pela história de um veterano da luta-livre. Em todos esse filmes, pessoas angustiadas, obsessivas, desesperadas, em busca de algo que nem sempre é tão atingível assim, ao menos sem sacrifícios. "Cisne Negro" apenas continua a receita, num nível bastante pessoal.
Precisão e caos numa mistura ensandecida que nos arrasta e cospe na nossa face, dizendo: "você deveria ter medo de si mesmo".
Nina: fragmentada pela própria obsessão
Desde a abertura, somos tragados para o universo particular de Nina Sayers, bailarina que já está há um tempo em sua companhia mas que nunca teve o merecido reconhecimento. Sua técnica é perfeita mas sua naturalidade precisa ser trabalhada. E justamente quando recebe o papel principal no balé O Lago dos Cisnes, Nina vê o sonho se realizar, o sonho que sua mãe não teve oportunidade e que transferiu totalmente para a filha. Nesse balé, Nina precisa ser duas personagens, distintas e opostas: o Cisne Branco, virginal, inocente, e o Cisne Negro, instintivo e sedutor. Ela tem tudo que é necessário para ser o Cisne Branco, mas não para o Negro. E no seu caminho, a novata recém-chegada de outra cidade, Lilly, será sua benção e sua maldição. Então, observamos a espiral de terror e loucura rumo a autodestruição, uma estrada sem volta, onde Nina se verá cada vez mais perto do seu sonho... Mas a que preço?
A transformação: quando o desejo sobrepuja a razão
Puramente Natalie Portman - A noite de 27 de fevereiro promete ser a coroação de uma jovem atriz. A menos que os votantes da Academia tenham tomado um alucinógeno potente ou recebido ameaças de morte de alienígenas mal intencionados, Natalie Portman será premiada melhor atriz no Oscar 2011. O filme é ela, é dela, antes e depois da projeção. Não é por acaso que ela tem abocanhando todos os prêmios de melhor atriz por onde passa. O Globo de Ouro, principal termômetro para o Oscar, foi para ela. Em cada cena de "Cisne Negro" vemos uma atriz no auge, tendo conquistado uma maturidade rara de se ver e uma mistura de talento e beleza que será referência por muitos anos. A cena em que ela dança o Cisne Negro é a catarse de todo os símbolos, de toda a atmosfera criada ao longo dos 108 minutos de filme. Precisão e caos numa mistura ensandecida que nos arrasta e cospe na nossa face, dizendo: "você deveria ter medo de si mesmo".
Cisne Negro NOTA: 10/10
(sim, é o primeiro 10 do Caixa da Memória. Daí, já tirem o impacto que o filme me causou...)
Acabei de vê-lo no cinema. Impecavelmente perfeito, no sentido técnico e na atuação profunda de Portman, porém, não me envolveu tanto quanto O Discurso do Rei. Entrarei em mais detalhes na minha longa matéria sobre os dez filmes assim que terminar de vê-los!
Esse filme me deu medo. De verdade. E Discurso está na minha mira para essa semana. Quarta verei O Mágico com os calouros de jornalismo, lá na Fundaj. Se for do seu agrado, aparece lá.
Sinceramente, achei o Discurso do Rei um filme superestimado. Doze indicações foram um grande exagero. Dos indicados ao Oscar, não há dúvida de que Cisne Negro é o melhor.
E gostei da crítica. Discorre bem sobre a essência do filme. A tônica é "perfeição", a busca desesperada de uma jovem bailarina por ela. O final é magnífico. É um filme de tirar o fôlego. Extasiante.
Obs: Espero conhecer o dono do blog na quarta-feira, lá na Fundação.
4 comentários:
Acabei de vê-lo no cinema. Impecavelmente perfeito, no sentido técnico e na atuação profunda de Portman, porém, não me envolveu tanto quanto O Discurso do Rei. Entrarei em mais detalhes na minha longa matéria sobre os dez filmes assim que terminar de vê-los!
Esse filme me deu medo. De verdade.
E Discurso está na minha mira para essa semana.
Quarta verei O Mágico com os calouros de jornalismo, lá na Fundaj. Se for do seu agrado, aparece lá.
Não. Não é! Mas vlw pelo convite... E Tiago não fez mais nada além de sua estreia, né?
Conseguisse colocar algum link no ueba?
Sinceramente, achei o Discurso do Rei um filme superestimado. Doze indicações foram um grande exagero. Dos indicados ao Oscar, não há dúvida de que Cisne Negro é o melhor.
E gostei da crítica. Discorre bem sobre a essência do filme. A tônica é "perfeição", a busca desesperada de uma jovem bailarina por ela. O final é magnífico. É um filme de tirar o fôlego. Extasiante.
Obs: Espero conhecer o dono do blog na quarta-feira, lá na Fundação.
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