quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Acompanhe a 2ª Guerra Mundial ao vivo - 72 anos depois!

Nazistas tomam a Polônia. E começam a maior de todas as guerras.
A convergência entre o velho e o novo na realidade 3.0 da rede produz coisas que jamais sonharíamos dez anos atrás. Um exemplo disso, que fiquei sabendo através do Jovem Nerd (para quem não conhece - #desonrapratuavaca! - recomendo muitíssimo), é o perfil @RealTimeWWII, criado por Alwyn Collinson, 24 anos, formado em história pela Universidade de Oxford.

À primeira vista, parece piada. Mas depois que se percebe o quanto a ideia é genial, não tem como não gostar dela. É muito simples: cada tuíte desse perfil será um fato que realmente ocorreu durante a Segunda Guerra, na data e hora local exatas do ocorrido, 72 anos atrás, simulando uma cobertura em tempo real! A "brincadeira" começou em 31 de agosto passado, correspondendo às primeiras manobras alemãs para invadir a Polônia, em 1939. Além dos 140 caracteres, são postadas algumas fotos, documentos, gravações radiofônicas e vídeos de época armazenados na internet.

Até o momento em que estou escrevendo este parágrafo, @RealTimeWWII já tem 18694 seguidores e está presente em 257 listas. Serão pelo menos seis anos de trabalho, acompanhando "ao vivo" toda a Segunda Guerra Mundial. Um arquivo histórico muito interessante, pelo canal em que está sendo divulgado e pelas possibilidades de uso educacional (imagine professores de história conquistando o interesse dos alunos orientando-os a usar o Twitter para estudar...).

14 horas atrás, ainda alguma tranquilidade.
A guerra está apenas começando...
A iniciativa de Collinson não é inédita. Jornais como The Guardian e El País já fizeram algo parecido. No caso do britânico The Guardian, a "cobertura ao vivo" focou no 11 de setembro. Durou 16 tuítes e foi bastante criticada. Já o espanhol El País reviveu o dia 23 de fevereiro de 1981. Através dos relatos memorialísticos de Jacinto Antón, editor de cultura do jornal, foi reconstituído o golpe de Estado (frustrado) ocorrido naquela data, através da visão do jornalista, com 23 anos à época, que foi forçado a participar da invasão da Polícia Militar ao Congresso dos Deputados da Espanha, em Madrid. Nenhuma dessas coberturas, no entanto, tinha projeto de ser duradoura ou se desdobrava sobre um fato de tamanha magnitude.

Em matéria publicada no site The Next Web, Collinson reconhece que não está sendo original. O Arquivo Nacional Britânico criou o perfil @ukwarcabinet onde divulga os documentos do Gabinete de Guerra, de Winston Churchill, que lá estão armazenados. Então, qual o diferencial de Collinson? No caso do @ukwarcabinet, a reconstrução histórica via Twitter se dá num esquema de cima para baixo: é a visão oficial do evento daqueles que estavam em posições de liderança na época. O caminho do ex-aluno de Oxford é oposto, tentando mostrar o lado mais humano da guerra, ou seja, "como pessoas comuns viveram (ou morreram) durante a guerra". Além disso, o foco de Allinson é mais abrangente, universal, enquanto o @ukwarcabinet volta seu olhar para a Grã-Bretanha.

E o preconceito nazista vai dando suas caras. Ciganos, negros, gays, loucos, judeus...
Tudo em nome da raça superior ariana...
O próprio Collinson reconhece a dificuldade da empreitada. "Por enquanto, acho que certamente chego até a invasão da França. Isto será na próxima primavera (outuno, no Brasil), e é algo surpreendente - a queda de Paris, a retirada de Dunquerque e por aí vaí. De lá até a invasão da Rússia, não deverá ser muito difícil. Mas depois, a guerra se torna realmente grande, impossível de comprender a partir de um único ponto de vista".

Além das dificuldades estratégicas de atualização (ele usa um aplicativo que permite programar os tuítes, chamado SocialOomph, pois muitas das ações de guerra aconteceram durante o amanhecer; "Não tenho o menor desejo de tuítar às 4h (...) Tenho um trabalho diário, e portanto, limites", diz ele), Collison admite as limitações de pesquisa que enfrentará. "Adoraria usar de crowdsource (ou inteligência coletiva) para parte do conteúdo - eu não posso investigar sozinho todas as fascinantes histórias de guerra, e estou realmente interessado em obter perspectivas incomuns, relatos de testemunhas oculares, o heroísmo ou tragédia esquecidos, coisas que fazem as pessoas olharem para a guerra com visão renovada". Quer colaborar com a imensa jornada de Collinson? Basta entrar em contato com ele através de email (realtimewwii@gmail.com) ou pelo Twitter do projeto.

Particularmente, achei uma ideia fantástica. É uma ótima forma de rever a história, atualizando-a para uma das ferramentas de comunicação mais populares do nosso tempo. Parabéns a Collinson pela iniciativa e torçamos para que ele consiga levar o projeto até o fim, em 2017.

Guarde na memória:
- Entenda o golpe de Estado espanhol de 1981:  bit.ly/g8e0hwbit.ly/rmcJgg e mun.do/qVZIUc
- o relato de Jacinto Antón para o El País: bit.ly/pDCEK3 e bit.ly/dMB7LU
- os 16 tuítes do The Guardian para o 11 de setembro (#fail total): bit.ly/q3tWOU
- Link direto para o The Cabinet Papers, os documentos de guerra britânicos do Arquivo Nacional: bit.ly/5ssRI3
- NerdOffice, onde este post começou: bit.ly/ltp9Xs
- Um pouco mais sobre crowdsourcing: bit.ly/nyeW9x

Um comentário:

Débora Leão disse...

CAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAR@#%$%¨%$%$#%$OOOOOOOO

:O

Curti MUITO esse post! Sério!!
Tô besta aqui...
original ou não a ideia é muito boa, pelo menos eu achei.
Acho que a do onze de setembro falhou por ser muito recente e ter toda uma comoção acerca disso.
Tratar da segunda-guerra pra mim foi genial. Além de dar um novo olhar ao fato, mostra a capacidade de aprendermos cada vez mais sobre a História da humanidade de formas diferentes, contextualizando pra nossa realidade.
Curti muito.