terça-feira, 18 de janeiro de 2011

[Psicotrópicas] O Zumbir das Muriçocas



Não tem uma hora em que você daria tudo pra não estar lá? Pode ser por qualquer motivo, contanto que aquilo terminasse? É, acontece. Imagine-se na situação de estar almoçando com a mulher da sua vida, num lugar não tão discreto, mas no mínimo aconchegante, e ela derramando lágrimas por um motivo que você nunca chegou sequer a pensar? E a culpa é sua, cara, querendo ou não, inteiramente sua… É de lascar, não é mesmo?


E você fica sem palavras, tentando adivinhar como diabos você chegou a aquela situação. Fica em silêncio por um tempo incomensurável. Ela também parece repetir o gesto, como em defesa, esperando por seus argumentos. Nessa hora, cada segundo parece do tamanho de uma baleia, passando a três metros do seu nariz, e você nem consegue adivinhar quando o corpo daquele colosso marinho vai terminar de passar. Num silêncio desses, em que cada palavra sua escala velozmente a Ladeira da Misericórdia que existe dos seus pulmões até a garganta, mas morre ali, de puro cansaço, todos os mais insignificantes detalhes da cena chamam mais atenção do que a face do outro. A garçonete que passa apressada, o casal babando por cada gesto da filha pequena, o cara que saca um celular maneiro e fica manipulando-o como se fosse um troféu de sua completa babaquice, a garota que chega junto com o namorado e começam a conversar e comer… Acho que até uma minúscula muriçoca que passasse do outro lado do espaço seria notada facilmente.

E isso por que, meus caros amigos? Covardia. A covardia é o demônio do homem. A sua mais completa miséria. Que podia fazer naquela situação, impregnado dessa pestilência moral tão comum? Não muito. O melhor remédio que encontra naquele momento é deixar as mãos como em súplica ao alcance das dela. Ela responde pegando-as, alisando-as mansamente. Podia ver que escondia as lágrimas. Era terrível a sensação. E tudo por uma incompetência que você sequer desconfiava. Ah, inferno, por que não notou isso logo? Mas lógico que jamais notaria, você faz tanto pra ela… Mas ainda assim, parece ser cobrado de algo que nunca fez…


É difícil compreender o coração das mulheres, por vezes tão enigmático… “Decifra-me ou devoro-te”, é o que ele, o coração de mulher, vive dizendo pra gente. Se fosse fácil entendê-los, não precisaríamos do silêncio inconveniente nem de muriçocas zumbindo do outro lado da sala.


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Em outras empreitadas na blogosfera, eu buscava me dedicar mais a minha expressão literária, da qual sentia tanta falta. O nome da coluna, Psicotrópicas, vem justamente de um desses blogs. Com esta coluna, pretendo relançar, desta vez para maior público, minhas aloprações literárias, em prosa e poesia. A cada 15 dias, um novo texto. Claro que não ficarei limitado às antigas criações. Textos literários inéditos de minha autoria também serão postados aqui. Espero que apreciem.

Ah, e mais um detalhe: em alguns posts dessa coluna, procurarei ilustrar com alguma imagem. Não necessariamente uma recriação da cena que estiver sendo narrada, mas algo que tenha a ver com o tema/situação tratada.

2 comentários:

Unknown disse...

Boa! Acho que apesar da ideia de que um blog, pelo menos hoje em dia, tende mais para o jornalístico, ou o besteirol, não podemos esquecer nossas raízes literárias. Muito legal a iniciativa que até me deu um empurrão para eu começar o meu no Caio em Coluna.
Abs.

Wesley Prado disse...

Porra, Caio, deixa de ser imitão! kkkk